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sexta-feira, 30 de março de 2018

A Condição Operária Na Fábrica Taylorista


"Na minha vida de fábrica , foi um experiência única. [...] para mim pessoalmente , veja o que significou o trabalho na fábrica . Mostrou que todos os motivos exteriores (que antes julgava interiores) sobre os quais , para mim, se apoiava o sentimento de dignidade , o respeito por mim mesma , em duas ou três semanas ficaram radicalmente arrasados pelo golpe de uma pressão brutal e cotidiana. E não creio que tenham nascido em mim sentimentos de revolta. Não, muito ao contrário. Veio o que era a última coisa do mundo que eu esperava de mim: a docilidade. Uma docilidade de besta de carga resignada. Parecia que eu tinha nascido para esperar, para perceber , para executar ordens- que nunca tinha feito senão isso - que nunca mais faria outra coisa. Não tenho orgulho de confessar isso. É a espécie de sofrimento que nenhum operário fala; dói demais, só de pensar. [...] Dois fatores condicionam esta escravidão: a rapidez e as ordens. A rapidez: para alcançá-la, é preciso repetir movimento atrás de movimento , numa cadência que, por ser mais rápida que o pensamento, impede o livre curso da reflexão e ate do devaneio. Chegando-se à frente da máquina , é preciso matar a alma , oito horas por dia , pensamentos, sentimentos, tudo. [...] As ordens : desde o momento em que se bate o cartão na entrada até aquele em que se bate o cartão na saída, elas podem ser dadas , a qualquer momento, de qualquer teor. E é preciso sempre calar e obedecer. A ordem pode ser difícil ou perigosa de se executar , até inexequível ; ou então, dois chefes dando ordens contraditórios; não faz mal : calar-se e dobrar-se [...] Engolir nossos próprios acessos de envenenamento e de mau humor ; nenhuma tradução deles em palavras , nem em gestos , pois os gestos estão determinados,  minuto a minuto , pelo trabalho. Esta situação faz com que o pensamento se dobre sobre si, se retraia , como a carne se retrai debaixo de um bisturi. Não se pode ser "consciente".

-Weil, Simone. Carta a Albetine Thévenon (1934-5). In: Bosi, Ecléa (org.). A condição operária e outros estudos sobre a opressão. Rio de Janeiro: Paz e Terra , 1979. P. 65.

domingo, 25 de março de 2018

A Expansão Napoleônica E Os Levantes Políticos Na América Espanhola



Entre o fim do século  XVIII e o início do XIX , Espanha enfrentou vários  conflitos. Os desdobramentos  da Revolução  Francesa enfraqueceram o poder espanhol , privando-o de seu mais forte aliado, a França, diante do poderio naval inglês.  As guerras desse período , altamente dispendiosas  , resultaram em um distanciamento entre a metrópole  e suas colônias  , inclusive com algumas concessões  comerciais a navios de nações  neutras nos conflitos , como os Estados Unidos da América.  A partir de 1806, com a decretação  do Bloqueio Continental na Europa , as exportações  britânicas  para a América  espanhola aumentaram  e duas invasões inglesas atingiram Buenos Aires. No entanto , a crise política mais intensa foi detonada de 1808 , quando as tropas napoleônicas  invadiram a Espanha, levando à  deposição  do rei. A partir daí,  uma grave crise de legitimidade política e institucional afetou todo o Império  Espanhol. Na América  hispânica  , perante a ausência  de autoridade espanhola , juntas de governo local foram instituídas e passaram a governar , por conta própria,  em nome do rei deposto, Fernando BIO. Daí tiveram início as agitações  e guerras de independência.  O  vácuo  político  abriu espaço para os vários  antagonismos sociais presentes na colônia  fossem canalizados para a preposição  da independência  em relação  à  metrópole.  Setores dominantes da elite Corolla,  a fim de usufruir das novas benesses do capitalismo , com as quais entravam em contato pelos ingleses e norte-americanos, desejavam derrubar os monopólios  e as restrições ao comércio  , transformando as colônias  em territórios livres, capazes de produzir para outros países e comerciar com eles. Os primeiros movimentos pela independência seriam marcados pela inclusão  de outras demandas sociais. A Igreja Católica,  na América espanhola , era extraordinariamente rica. Vivendo das rendas de suas propriedades , das capelania, dos censos e dos dízimos  e mantendo ligações  estreitas com a Coroa espanhola , maioria dos casos , a Igreja se posicionada em favor da manutenção  da velha ordem , que a beneficiava. Contudo, o poder eclesiástico  não  formava um bloco monolítico e , em alguns momentos, membros do baixo clero , inseridos no cotidiano da população  , tomavam posições  mais contestadoras em relação  à  ordem social estabelecida. Na Nova Espanhola (México), na região  de Guanajuato, em 1810, após  uma séria  crise agrícola , eclodiu uma grande revolta camponesa. Ela foi liderada pelo padre Miguel Hidalgo , que, sob a evocação  da Virgem de Guadalupe, incitação os índios  a lutar pela liberdade e pelo fim dos tributos indígenas  e da servidão.  Ali , como a maior parte da América  espanhola , um sistema de castas dividia a sociedade entre brancos , índios e mestiços, promovendo a desigualdade jurídica  e a segregação  social. O movimento  comandado por Hidalgo logo se radicalizou , passando a propor o fim das classificações  discriminatórias  e dos latifúndios.  A pouca adesão  dos criollos e moradores das cidades ao movimento tornou- se , a partir daí,  oposição  e perseguição.  A elite Corolla, o cabuloso da Cidade do México  e a Igreja local condenaram a revolta , declarando serem os rebeldes uma ameaça a todos.  Na sequência  , o movimento foi reprimido e seu líder,  executado.  Mais tarde, todavia, entre 1811 É 1815 , novas rebeliões  agitaram a região  . Entre seus líderes estava também  pároco  José Maria Modelos. Apesar de tentar estabelecer um acordo com os criollos sobre a emancipação  diante dos espanhóis  , não  obteve o apoio necessário  e , mais  uma vez, a revolta foi contida. Na Venezuela , pressionado por homens ilustres , como Francisco de Miranda e Simón Bolivar, em 1811, um congresso declarou a Primeira República da Venezuela. Algo semelhante ocorreu em Nova Granada . Mas, em todo o Norte da América  do Sul , surgiu uma forte resistência  à  independência, principalmente no interior. Após  vários confrontos , em 1815 e 1816 , liderados por José  Tomás  Vocês, os realistas , defensores da lealdade à Coroa espanhola, dominaram  a situação.  Mais ao Sul, no Rio da Prata, em 1810, um levante conhecido como Movimento de Maio depôs  o vice rei local e declarou  a abertura do Porto de Buenos Aires. NO DIA SEGUINTE,  foi a vez de o Paraguai declarar sua independência , não apenas em relação  à  Espanha , Mas também  a Buenos Aires. Diferentemente do que ocorreu no restante  da América hispânica  , o Rio da Prata não   às  forças restauradores da Espanha. Enfim, O período compreendido entre 1810 e 1815 foi constituído  por incertezas políticas e movimentos sociais frustrados. Diante das guerras napoleônicas,  na Europa , e do conflito com os Estados Unidos , entre 1812 É 1814, a Inglaterra se manteve neutra em relação à  Hispano-América.  Sem grande apoio externo , os movimentos libertadores amarraram suas primeiras derrotas. Nesse contexto , em 1814, com a queda de Napoleão Algodão e a restauração  espanhola , as forças realistas ganharam terreno para reprimir os primeiros líderes independentistas. Embora o desejo de emancipação  continuasse presente entre boa parte dos criollos, no México,  as revoltas de caráter  popular , agrário  e anti-metropolitano provocaram uma profunda desconfiança  na elite colonial quanto a qualquer proposta de atendimento às  demandas indígenas  e mestiços no processo emancipatório.


quinta-feira, 22 de março de 2018

Sobre A Revolução


Podermos utilizar o termo revolução para nos referir aos grandes processos que alteraram substancialmente a vida da humanidade. São bons exemplos desses processos a Revolução Agrícola , que transformou radicalmente a forma de produção de alimentos das populações humanas , e a Revolução Industrial, que mudou a forma de produção de bens. Hoje , estamos participando da terceira grande revolução mundial, baseada na informática , na engenharia genética e na nanotecnologia , pesquisa e produção no nível do átomo, que estão alterando profundamente a maneira de produzir e de viver. Utilizamos também  o termo revolução para designar os processos de mudança de rumo político em uma sociedade ou em várias delas.  Nesse ponto há que diferenciar as revoluções que ocorreram no século XVIII e podem  ser chamadas de burguesas, porque foram movimentos liderados pela burguesia ascendente , e as que eclodiram no século XX, consideradas populares , porque tiveram uma participação significativa do povo. A Revolução Francesa eclodiu em 1989 e se transformou em referência para todos o movimentos posteriores , pois os envolvidos lutaram não somente contra o poder monárquico na França , mas contra todos os regimes absolutistas e pela eliminação da monarquia, porque essas formas e sistemas de governo significavam opressão à maioria da população. Além disso, foi alterada profundamente a estrutura da propriedade rural, eliminando entraves para o desenvolvimento de uma nova sociedade. Entretanto, o mais importante foi o fato de os revolucionários lutarem em nome dos seres humanos (mesmo não incluindo as mulheres) e não só dos franceses , o que transformou o movimento em paradigma das revoluções posteriores. No século XX ocorreram muitas experiências revolucionárias. Entretanto, foram poucas as que  envolveram os mais explorados e , portanto , a maioria da sociedade.


domingo, 18 de março de 2018

Pirâmides de Idades



Duas populações podem apresentar taxas de natalidade e de mortalidade idênticas e velocidades diferentes de crescimento. Isso pode acontecer quando as duas populações apresentam proporções diferentes de taxas de idade , ou seja, quando apresentam estruturas etárias diferentes. As pirâmides de idades são gráficos que indicam as proporções das diferentes faixas de idade na população e a proporção dos sexos. Países com taxas de natalidade elevados e expectativa de vida baixa têm pirâmides com base larga e topo estreito , o que indica grande número de jovens e baixa proporção de idosos (caso da pirâmide do Quênia). São populações predominantemente jovens, que tendem a um crescimento rápido por causa da grande proporção de jovens que poderão ter filhos nos próximos anos. No extremo oposto , há países com taxa de natalidade muito baixa e expectativa de vida elevada (caso da pirâmide da Bélgica). Esse caso , a pirâmide tem uma base mais estreita , o que indica grande número de idosos e baixa proporção de jovens. São populações maduras ou envelhecidas , com baixo crescimento e tendência a se estabilizar ou até a declinar. No Brasil a proporção de adultos e idosos na população  vem crescendo por causa do aumento na expectativa média de vida, que em 2006 era de 71,9 anos, e da queda na taxa de fecundidade (número médio de filhos que as mulheres têm no decorrer da vida). As projeções indicam que em 2050 o grupo de pessoas com até 14 anos e o das pessoas com mais de 60 anos terão o mesmo tamanho, representando, cada um , 18% da população (em 1940, o grupo com até 14 anos era a metade da população). 


terça-feira, 13 de março de 2018

Povos Em Movimento


A partir do século XVI, portanto, no início da formação do capitalismo , as migrações em escala continental ocorreram, de modo geral, das áreas de economia mais desenvolvidas para regiões que ainda não haviam incorporado o desenvolvimento tecnológico e os padrões culturais europeus. Hoje , os fluxos migratórios internacionais ocorrem na direção inversa. As populações das regiões mais pobres esperam desfrutar de melhores condições de vida nos países mais desenvolvidos, os quais, em sua maioria, estão localizados no continente europeu. O sentido desses fluxos é, em muitos casos, resultado do distanciamento (cada vez maior) entre a riqueza acumulada nos países desenvolvidos e as situações de probreza enfrentadas por parcela significativa da população dos demais países. Entre os acontecimentos que estimularam as migrações internacionais na década de 1980, destacam-se o ciclo recessivo da economia mundial e a crise dos países socialistas. O processo de globalização da economia também tem intensificado os movimentos populacionais , pois, ao disseminar novos produtos e novas tecnologias de produção, tem exercido forte pressão no mercado de trabalho , cortando postos de trabalho em várias países do mundo, inclusive nos desenvolvidos. Os avanços nos meios de transporte , por sua vez, facilitaram o deslocamento de imigrantes para regiões mais distantes de sua terra natal.  O desenvolvimento tecnológico nas últimas décadas do século XX intensificou as disputas no mercado internacional. Com as novas formas de produção de mercadorias incorporadas ao sistema industrial e com a informatização do sistema financeiro , dos serviços bancários e comerciais , as atividades econômicas estão absorvendo cada vez menos trabalhadores , especialmente os de baixa qualificação. Se nos países desenvolvidos o índice da população desocupada é preocupante , nos países subdesenvolvidos que ainda mantêm um índice de crescimento populacional relativo (caso dos subdesenvolvidos industrializados) ou elevado , as perspectivas a longo prazo são bem mais preocupantes. Atualmente , o mundo subdesenvolvido tem procurado atrair investimentos de empresas multinacionais visando dinamizar sua economia , elevar a entrada de divisas e aumentar sua capacidade de produção de bens , de geração de serviços e de exportação. Mas esses investimentos não ampliaram a oferta de emprego. Em muitos casos, acarretaram a falência de empresas nacionais que utilizavam muita mão-de-obra e pouca tecnologia. Essa crise tem gerado grupos de profissionais marginalizados , que não conseguem voltar ao mercado de trabalho, seja pela baixa qualificação, seja pela própria redução na oferta de vagas.

sábado, 10 de março de 2018

O Cloreto De Sódio E A Osmose



Qual deve ser a concentração adequada de soluto no soro que é administrado em pacientes Por que o sal ajuda a conservar a carne seca? De que modo pode-se obter água pura a partir do mar empregando o conceito de osmose? As respostas a essas perguntas - ligadas à saúde , à alimentação e à substância do ser humano - relacionam-se ao conceito de osmose.
O sangue é formado por elementos celulares (glóbulos brancos, glóbulos vermelhos e plaquetas) e por uma solução aquosa de vários componentes, que é o soro sanguíneo . O soro sanguíneo apresenta uma pressão osmótica bem definida , que é a mesma pressão osmótica do líquido presente no interior das células sanguíneas. Um glóbulo vermelho , por exemplo , se for colocado em uma solução de pressão osmótica  maior que lele, denominado meio hipertônico , perderá água por osmose e murchará. Se for colocado em um meio com pressão osmótica menor , um meio hipotônico , ganhará água por osmose e inchará até estourar. Só em um meio com uma pressão osmótica igual àquela de seu interior, um meio isotônico , um glóbulo vermelho não corre o risco de murchar ou de estourar. Assim, ao administrar na circulação de um paciente grandes volumes de líquido, é necessário que esse líquido apresente a mesma pressão osmótica do plasma sanguíneo . O soro glicosado é uma solução aquosa 5% em massa de glicose, que é uma solução isotônica ao sangue. Não oferece , portanto , risco às células sanguíneas. O soro fisiológico é uma solução aquosa de NaCI a 0.9% e também apresenta a mesma pressão osmótica do sangue. Seu uso consiste numa maneira de hidratar o paciente (repor água que foi perdida), sem risco de afetar as células sanguíneas. Na conservação da carne pela salga, produzindo a carne-seca (jabá, charque , carne-de-sol), o cloreto de sódio retira a água da carne , por osmose. também retira água de microrganismos eventualmente presentes, impedindo seu crescimento e sua atividade . Assim, a carne é preservada por mais tempo. A salga do pescado (por exemplo , bacalhau seco) baseia-se no mesmo princípio. A pressão osmótica da água do mar é da ordem de 27 atm. Essa é a pressão que deve ser aplicada a água do mar - separada da água pura por uma membrana que deixe passar apenas o solvente - para impedir que ocorra  a osmose. Se a pressão exercida for superior a 27 atm, o fluxo osmótico é invertido , e água pura pode ser obtida por osmose reversa. Em algumas regiões desérticas já existem usinas nas quais água pura é obtida a partir da água do mar por meio do osmose reversa. A principal dificuldade envolvida nessa tecnologia diz respeito ao material da membrana semipermeável , já que ele deve resistir a altas pressões sem se romper. A ideia da osmose reversa também é usada para a fabricação de equipamento de sobrevivência para náufragos , permitindo que obtenham água pura a partir da água do mar. Para um náufrago sem água há muitos dias , a ideia de beber água do mar é uma tentação fatal. A água do mar não apresenta apenas cloreto de sódio , mas vários outros solutos , entre os quais sais de magnésio . Embora nosso intestino apresente mecanismo que permitam a absorção dos íons presentes nas comidas e nas bebidas , os íons magnésio (Mg²+) não são absorvidos com muita eficiência. Ao ingerir a água do mar, a concentração de íons magnésio dentro do intestino aumenta  muito e, por osmose , água passa da circulação sanguínea para o interior do intestino , provocando diarreia . Assim, o náufrago não só deixa de saciar a sede , como também desidratar-se fatalmente por causa da diarreia. (Isso que acabamos de falar sobre os íons magnésio também explica por que existem laxantes baseados no hidróxido de magnésio - o leite de magnésia - e no sulfato de magnésio - o sol amargo ou sal de Epsom.) . Equipamentos portáteis baseados na osmose reversa permitem que um náufrago aplique pressão por meio de uma bomba manual , gerando pressão suficiente para produzir cerca de 4,5 L de água pura em cerca de uma hora., Já foi relatado o caso de um casal de náufragos que permaneceu 66 dias no mar alimentando-se de peixe e obtendo água por meio de kits de sobrevivência baseados na osmose reversa.


terça-feira, 6 de março de 2018

A Sociologia no Brasil


Como na França de Émile Durkheim , os primeiros passos da Sociologia no Brasil corresponderam a iniciativas para a inclusão dessa disciplina no ensino médio. A primeira tentativa ocorreu logo após a proclamação da República , como a reforma educacional de 1891, de Benjamin Constant , que defendia o ensino laico em todos os níveis. O ensino médio tinha por objetivo a formação intelectual dos jovens fora do contexto religioso, que era predominante até então. Mas , sem nunca ter sido incluída nos currículos escolares, a Sociologia foi eliminada pela Reforma de Epitácio Pessoa, em 1901. Em 1925 , com a Reforma de Rocha Vaz , que tinha os mesmos objetivos da de Benjamin Constant , o colégio Pedro II , na cidade do Rio de Janeiro, implantou a Sociologia regularmente no seu currículo . Três anos depois , a disciplina foi introduzida nos estados de São Paulo , Rio de Janeiro e Pernambuco. Em 1931, outra reforma , a de Francisco Campos , ministro da Educação e Saúde do governo Vargas , introduziu a Sociologia nos cursos preparatórios aos cursos superiores nas faculdades de Direito , Ciências Médicas e Engenharia e Arquitetura , além de mantê-la nos cursos normais (de formação de professores). Desde 1925 , podem-se destacar alguns intelectuais que deram sua contribuição lecionando e escrevendo livros (manuais) de Sociologia para esse nível: Fernando de Azevedo (1894-1974) , Gilberto Freyre (1900-1987) , Carneiro Leão (1887-1966) e Delgado de CARVALHO (1884-1980) . Eles tinham como objetivo preparar intelectualmente os jovens das elites dirigentes e elevar o conhecimento daqueles que chegavam às escolas médias. Esses autores , em sua maioria , eram influenciados pela Sociologia estadunidense e francesa, havendo forte presença do positivismo entre eles. Mas esse processo no ensino médio estanca no início da década de 1940 , com a Reforma Capanema, que a extingue do currículo da escola média, voltando a ter presença muito discreta e intermitente somente na década de 1980.


sexta-feira, 2 de março de 2018

A Intervenção da Igreja



A descoberta da América por Colombo provocou disputa entre os reinos ibéricos , interessados na posse de terras. Portugal preocupou-se em firmar um tratado que lhe assegurasse o domínio das terras existentes a leste do Oceano Atlântico. O acordo entre os dois países foi julgado pelo papa Alexandre VI, que confirmou um novo tratado. Partindo-se de uma linha imaginária traçada a partir do pólo (37¤), o Tratado de Tordesilhas estabeleceu que as terras encontradas a oeste dessa linha pertenceriam à Espanha e aquelas situadas a leste seriam de Portugal. Por esse motivo , a esquadra de Pedro Álvares Cabral , que se dirigia às Índias , fez um desvio proposital para leste para garantir ao rei português a posse dessas terras (brasileiras). Os outros países europeus desconsideraram esse tratado, que os excluía, e procuraram se estabelecer e explorar o novo continente. As novas conquistas não ofereceram interesse imediato a Portugal. O comércio de especiarias estava no auge: o aumento de consumo e sua falta no mercado europeu faziam com que as cargas dos navios que retornavam das Índias fossem disputadas e as mercadorias alcançassem preços elevados na revenda. Por esse motivo , Portugal limitou-se a estabelecer algumas feitorias nas novas terras , para desenvolver atividades extrativas. Utilizava-se da mão-de-obra indígena , que , em troca de quinquilharias (escambo) , prestava-se de boa vontade a esse serviço. Mas a exclusividade da rota marítima durou pouco. Inglaterra , França e Holanda , ignorando propositadamente o tratado que dividia a América entre as duas nações, passaram a utilizar-se dos caminhos recém-descobertos para suas próprias transações comerciais. O aumento da oferta de produtos provocou a queda dos preços e , portanto, dos lucros obtidos. Os reinos ibéricos tentaram , então, nova atividade lucrativa , através do povoamento e exploração colonial. Fez-se ao longo do litoral atlântico, insistindo-se no cultivo de produtos raros na Europa. Um deles , a cana-de-açúcar , encontrou condições de solo e clima propícios no Nordeste , tornando-se a base da economia lusitana na época. A necessidade de homens para a lavoura, homens que trabalhassem para donatários e não para seu próprio enriquecimento , alterou a relação inicial entre brancos e índios. " A legislação portuguesa sempre preocupou contrariar ou dificultar e imigração , embora milhares de camponeses europeus não tivessem terras e passassem fome" (Décio Freitas). Livres , com valores culturais e estrutura social e econômica bem diversos dos colonizadores (tipo de comunismo primitivo), os índios não se sujeitavam às imposições dos brancos. As lutas entre colonizadores e índios condenaram ao desaparecimento inúmeras nações indígenas , ao mesmo tempo que instituíam a mais abominável exploração humana: o regime escravo.


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