Habitus é outro conceito utilizado por Norbert Elias. É muito interessante porque , além de esclarecedor, estabelece uma ligação entre o pensamento de Elias e o do francês Pierre Bourdieu (1930-2002). Para Elias , habitus é algo como uma segunda natureza , ou melhor , um saber social incorporado durante nossa vida em sociedade. Ele afirma que o destino de uma nação , ao longo dos séculos , fica sedimentado no habitus de seus membros. É algo que muda constantemente , mas não rapidamente , e , por isso, há equilíbrio entre continuidade e mudança. A preocupação de Bourdieu, ao retomar o conceito de Habitus, era a mesma de Elias : ligar teoricamente o indivíduo e sociedade. Não há diferença entre o que Elias e Bourdieu pensam em termos gerais , apenas na maneira de propor a questão. Para Bourdieu , o habitus se apresenta como social e individual ao mesmo tempo, e refere-se tanto a um grupo quanto a uma classe e, obrigatoriamente , também ao indivíduo. A questão fundamental para ele é mostrar a articulação entre as condições de existência do indivíduo e suas formas de ação e percepção, dentro ou fora dos grupos. Dessa maneira , seu conceito de habitus é o que articula práticas cotidianas - a vida concreta dos indivíduos - com as condições de classe de determinada sociedade , ou seja, a conduta dos indivíduos e as estruturas mais amplas. Fundam-se as condições objetivas com as subjetivas. Para Bourdieu , o habitus é estruturado por meio das instituições de socialização dos agentes (a família e a escola , principalmente) , e é aí que a ênfase na análise do habitus deve ser colocada , pois são essas primeiras categorias e valores que orientam a prática futura dos indivíduos. Esse seria o habitus primário , por isso mais duradouro- mas não congelado no tempo. À medida que se relaciona com pessoas de outros universos de vida , o indivíduo desenvolve um habitus secundário não contrário ao anterior , mas indissociável daquele. Assim vai construindo um habitus individual conforme agrega experiências continuamente. Isso não significa que será uma pessoa radicalmente diferente da que era antes, pois se modifica sem perder suas marcas de origem, de seu grupo familiar ou da classe na qual nasceu. Os conceitos e valores dos indivíduos (sua subjetividade) , segundo Bourdieu, têm uma relação muito intensa com o lugar que ocupam na sociedade. Não há igualdade de posições , pois se vive numa sociedade desigual. Por exemplo, no Brasil, teoricamente, todos podem ingressar na universidade, mas , de fato, as chances de que isso aconteça são remotas , porque há condições objetivas e subjetivas que criam um impedimento: a falta de vagas , as deficiências do ensino básico , um vestibular que elimina a maioria ou um pensamento como este : "Não adianta nem tentar, pois não vou conseguir", Ou este : "Para que ingressar em um curso superior se depois não terei possibilidade de exercer a profissão". Como se pode perceber , a Sociologia oferece várias possibilidades teóricas para a análise da relação entre indivíduo e sociedade. Esse é apenas um exemplo de como os sociólogos trabalham. Muitos autores analisam as mesmas questões e propõem alternativas a fim de que se possa escolher a perspectiva mais apropriada para examinar a realidade em que se vive e biscar respostas para as perguntas que se fazem. A diversidade de análises é um dos elementos essenciais do pensamento sociológico.
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